Chefiar não é o mesmo que liderar

Muito se tem discutido sobre as qualidades e habilidades de um verdadeiro líder. Alguns estudiosos do assunto tendem a achar que a liderança é apenas uma questão de preparo técnico e competência profissional. Outros afirmam que o verdadeiro líder é aquele que é capaz de despertar em seus subordinados o senso do dever. Alguns preferem enxergar no líder a figura carismática do guru, um ser quase iluminado que tem respostas para tudo e é capaz de resolver todos os problemas. Outros afirmam que o líder já nasce pronto e que é uma espécie de ser predestinado ao sucesso. Não importa qual a visão que cada um de nós tenha acerca do líder ideal, o importante é não perder de vista que as empresas precisam de líderes conscientes em seu papel de mobilizadores de talentos, incentivadores de competências e promotores do justo reconhecimento pelo esforço da equipe. Mas as organizações também precisam de líderes capazes de dar resposta aos desafios do dia-a-dia dos negócios.

Como nem tudo são flores no mundo corporativo, não podemos perder de vista que a relação chefe X subordinado costuma produzir conflitos e desentendimentos, gerando estresse e prejudicando a carreira de muita gente. Recentes pesquisas publicadas em revistas especializadas revelam que a falta de sintonia entre chefes e subordinados é a principal causa da fuga de talentos dentro das organizações. O curioso é que essas mesmas pesquisas destacam a importância do papel do líder na condução da política de gestão de pessoas nas organizações, o que acaba por produzir uma imagem positiva do líder e uma imagem negativa do chefe.

Seria ingenuidade imaginar que possa haver absoluta harmonia entre chefes e subordinados. Ou que a empresa possa ser organizada como uma família liderada por um líder carismático. As relações de trabalho pressupõem competição, onde o mais bem preparado se destaca, enquanto os menos competentes tendem a ficar para trás. Chega a ser leviano afirmar que a relação chefe-subordinado possa ser confundida com uma relação entre professor e aluno, pois sabemos que nem todo chefe é um líder, e que nem sempre o líder sabe chefiar.

O que costuma diferenciar o chefe do líder, é que o primeiro baseia suas ações no sentimento de obrigação diante das metas a serem alcançadas dentro da rotina diária dos negócios. Assim, sempre cobra seus subordinados por isso. O líder procura conscientizar seus colaboradores para o papel que a empresa deve desempenhar na sociedade, baseando suas ações no planejamento, em valores, princípios e metas. A visão do chefe é pragmática, pois precisa tomar decisões rápidas para alcançar objetivos de curto prazo. Já o líder está de olho na sobrevivência dos negócios ao longo do tempo. Ao chefe cabe cobrar pelo resultado imediato. Ao líder cabe orientar para o acúmulo de experiência, aprendizagem e conhecimento. O chefe executa. O líder planeja, apóia, incentiva e orienta. Vemos então que o chefe ideal é aquele que tem a consciência de um líder. E o líder ideal precisa saber chefiar. Mas acima de tudo, chefe e líder precisam gostar de gente, pois esse é o diferencial de sucesso nos dias de hoje.

No dia-a-dia das organizações é muito comum encontrar colaboradores reclamando da forma como chefes e líderes lidam com os subordinados, o que acarreta incompreensões e conflitos. É normal ouvir pessoas dizerem que o chefe sempre fica com as glórias pelo sucesso alcançado, mas quase sempre “esquece” de valorizar o esforço da equipe. Essas distorções de fato existem. É justamente por isso que o diálogo entre chefes e subordinados é tão árido e difícil. A distância (hierarquia) que os separa pode ser um abismo quase intransponível. Mas por que isso ocorre?

A resposta talvez esteja na forma como costumamos ver as relações humanas no ambiente de trabalho. Nossa formação educacional e cultural privilegia a idéia de que as pessoas devem ser valorizadas em função da função que ocupam na sociedade. Por outro lado, vivemos sob o império do ego, que faz com que acreditemos que a diferenciação entre as pessoas seja um atributo necessário à obtenção do sucesso pessoal e profissional. Essa crença distorce a realidade e gera conflito nas relações de trabalho. Ou seja, achamos que é natural a disputa por vantagens e privilégios e tendemos a ver o outro como um oponente a ser vencido. O curioso é que as pessoas que costumam criticar o modo como seu chefe age, são as mesmas que reproduzem essa atitude quando exercem cargos de chefia.

Portanto, caro leitor, da próxima vez que o seu chefe lhe parecer ineficiente e egoísta, lembre-se de que talvez ele não seja um líder, mas tanto quanto você, luta no dia-a-dia para assegurar um lugar ao sol. Amanhã talvez você esteja desempenhando a mesma função que ele ocupa hoje. Será que quando isso acontecer você vai se lembrar desse artigo e procurar ser um verdadeiro líder?

Sobre jdineymatos
José Diney Matos é jornalista, escritor e conferencista. Pós-graduado em ciência e tecnologia e finanças, trabalhou como executivo em empresas de grande porte iniciando sua carreira no Unibanco e encerrando no Grupo Brascan. Há cerca de quinze anos vem atuando como consultor especialista em comportamento nas relações profissionais, gestão de carreiras e gestão de negócios. É fundador e atual presidente do IBEHI – Instituto Brasileiro de Estudos Humanísticos Integrados, entidade educativa associada à ACA – American Creativity Association, que se dedica a estudos e pesquisas sobre desenvolvimento humano, criatividade e qualidade de vida. É autor dos livros Artimanhas do Ego (2004), Bem-Estar Criativo (2006) e A Essencial Arte de Pensar (a ser publicado em 2011).

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