“Homem-alfa” e Qualidade de Vida
24/02/2011 1 Comentário
Recentes estudos realizados por empresas de marketing e publicidade revelam uma substancial mudança no perfil do homem urbano contemporâneo. Esses estudos visam buscar informações que contribuam para estratégias de marketing capazes de vender produtos e serviços em todo o mundo. O resultado dessas pesquisas aponta para a necessidade de melhor compreender o que move o homem contemporâneo bem-sucedido e de bom poder aquisitivo.
Nas últimas duas décadas houve uma significativa mudança nos hábitos e preferências do homem urbano, o que nos leva a crer que as transformações comportamentais são muito mais complexas e abrangentes do que supomos a priori. Mesmo que os estudos realizados por agências de publicidade e propaganda possam identificar tendências e mudanças de hábitos de consumo do homem urbano contemporâneo, isso não significa assumir esse fenômeno comportamental como uma verdade sócio-cultural definitiva.
O termo homem alpha, foi cunhado pela agência de publicidade americana, Mc-Cann Ericson, para diferenciar esse novo consumidor do decantado metrosexual, que tem na vaidade sua motivação maior. Este novo homem tem hábitos de consumo específicos que provêm O desafio é o seu maior estímulo. Não a vaidade.
O homem alpha é um ávido consumidor de produtos e serviços sofisticados e inovadores. Por ser muito exigente e ambicioso, ele não se satisfaz com o lugar comum, pois seu prazer está atrelado à certeza da exclusividade. Mas, paradoxalmente, vive uma espécie de luta interna contra uma insatisfação que não tem fim, o que produz grande ansiedade. O homem alpha não quer apenas consumir, pois sua motivação está ligada a experiências existenciais desafiadoras. É movido pela adrenalina e a ansiedade é uma espécie de lei natural que o induz à conquista. O que salta aos olhos em tudo isso é que a abrangência da existência desse tipo de consumidor é maior do que possa imaginar a nossa vã filosofia, pois a tendência começa a ser imitada por amplas camadas da chamada classe média urbana, que não têm o mesmo poder aquisitivo, mas têm as mesmas aspirações existenciais do homem alpha.
Para certas pessoas, bem-estar e felicidade passaram a ser sinônimo de usufruir privilégios que só o dinheiro pode comprar. Será que bem-estar e a felicidade podem ser medidos por critérios tão frios e simplistas? Será que ninguém mais se importa com a “coisificação” do homem contemporâneo?
Quando o sociólogo canadense Marshal Mac Luhan sugeriu, nos anos 1960, que o homem urbano é produto do meio e que a sociedade de consumo acabaria por se transformar numa grande “aldeia global”, muita gente achou que era exagero. O tempo passou e tudo indica que ele estava certo. O homem alpha nada mais é do que o produto de uma sociedade que alicerçou seus valores no consumo, como saída para preencher o imenso vazio existencial que tomou conta de corações e mentes. Esse é o preço que estamos pagando pela chamada modernidade. Como sair deste círculo vicioso? Meu palpite é que por meio da filosofia podemos retomar o caminho que leva à reflexão crítica. Ao refletirmos sobre a armadilha gerada pela ansiedade exacerbada, característica primordial do chamado homem alpha, perceberemos que não faz o menor sentido continuar insistindo na possibilidade de uma felicidade prêt a porter.
José Diney Matos é jornalista, escritor, professor e conferencista. Especialista em gestão de negócios e gestão de pessoas.